Uma pessoa importante no cenário
da Cultura, compartilhando um pouco de seu universo particular através de
livros e discos fundamentais em sua formação. Nessa edição de 2014, recebemos Thiago Terenzi, cantor e compositor mineiro.
O que a arte precisa dizer...
O que a arte precisa dizer...
Tempos atrás, quando me faziam perguntas
tipo qual-seu-livro-de-cabeceira? ficava intrigado. Sem convicção, dizia dois
ou três títulos – todos muito bons, claro, importantes em minha formação. Não
entendia, porém, o óbvio: livro de cabeceira é aquele que jamais volta para a
estante.
Inúmeros livros permaneceram em
minha cabeça e são até hoje relidos de tempos em tempos – mas a cabeceira é
mais: nela deixamos a obra em processo de assimilação, a leitura não encerrada,
aquilo por consumir, o estar sendo.
Apenas percebi isso quando me
deparei com “Onde Andará Dulce Veiga?”, de Caio Fernando Abreu. Li tantas vezes e todas tão diferentes umas
das outras que ainda não cheguei ao fim. Não há onde deixá-lo senão onde ficam
as coisas em processo: ao lado da cama, na cabeceira.
“Onde Andará Dulce Veiga?” escancarou
minha busca pelo contemporâneo, me ajudou a perceber a necessidade de uma
identidade estética forte, me contou o que já desconfiava: que a arte precisa
dizer sobre seu tempo e suas dores, que as questões mudam e as respostas – ou a
ausência delas - também. Que as palavras são ditas por todo o resto e não pelas
próprias palavras. “Onde Andará Dulce Veiga?” foi a maior referência para a
feitura de meu primeiro disco.
No contraponto do contemporâneo –
mas sem fugir dele –, indico um disco de 1981. Mas que se lançado hoje, penso,
ainda seria vanguarda. É que a arte, a estética e a própria vida traçam
caminhos circulares, e isso é apaixonante. Avançamos por retomada. O disco é Computerwelt, do Kraftwerk.
Em timbres, conceito e canção:
tudo converge para fazer desse álbum de 30 anos atrás um álbum de agora. Seco,
minimalista e pouco orgânico, vejo muito
desse disco no que de melhor está sendo feito agora, nestes tempos de pós-indie
(indie? seja isso o que for).
Fato é que a precisão gelada
desses alemães me encanta e o minimalismo propõe. Esse disco é uma das
principais referências para meu próximo trabalho.
Ouça e baixe aqui o primeiro disco solo do Terenzi.
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